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Crise da habitação e racismo em Lisboa: Priscila Valadão cobra AIMA funcional e regularização ampla
22 de set. de 2025
Lisboa acolhe, mas também machuca. É assim que a brasileira Priscila Valadão, moradora de Odivelas e voz ativa do Movimento Vida Justa, descreve a cidade onde vive: um espaço de resistência e confrontos diários com a crise da habitação, a xenofobia e o racismo. Das ruas ao debate público, Priscila tem dado rosto às lutas de quem trabalha, paga impostos e, ainda assim, vê direitos básicos negados. ✊
Para Priscila, o maior problema de Lisboa é a habitação 🏠. Entre rendas proibitivas e especulação, quem serve a cidade não consegue viver nela. O turismo virou símbolo dessa contradição: faz a economia girar, mas escancara a desigualdade no acesso à cidade.
Imigração não é tudo igual, lembra ela. Há expatriados, refugiados, trabalhadores de salário local e até super ricos sazonais. Mas a maioria na Grande Lisboa é de quem vive do salário português e depende de políticas públicas para alcançar o mínimo. E quando o assunto é racismo, Priscila é direta: o problema é estrutural, atravessado pelo próprio modelo econômico. O que sustenta muita gente é a rede de apoio entre imigrantes. 🤝
Outra provocação importante: mais do que “integração” (que costuma exigir que alguém deixe de ser quem é), ela defende inserção real na sociedade — com língua, trabalho, casa e dignidade. Sem isso, vira disputa por sobrevivência, não convivência.
O que Priscila pede de concreto?
• AIMA funcional e regularização ampla para quem já vive e trabalha no país. 🆔
• Regulação do alojamento local e uso social de imóveis vazios, como prevê a Constituição. 🏘️
• Reforço do SNS com contratação de profissionais de saúde. 🩺
• Escolas públicas com formação antirracista e proteção contra bullying. 🏫
• Fiscalização de empregadores que exploram trabalho precário. 🧾
• Proteção às mulheres, com serviços especializados e acolhedores. ⚖️
• Não à violência policial e políticas que garantam dignidade no território. 🚫
No caminho pessoal, Priscila saiu da luta contra o bolsonarismo no Brasil, passou por sindicato, militou no PCP e hoje está nas ruas com o Vida Justa. Para ela, a vida é a luta — não como profissão, mas como escolha ética de estar com quem mais precisa. 💛
Há também um recado sobre a voz brasileira em Lisboa: a prática de reclamar direitos — filmar, denunciar, pressionar — tem feito diferença e puxado outras pessoas para o espaço público. Ao mesmo tempo, Priscila alerta para o risco de esvaziar pautas quando elas se afastam da realidade de classe e viram só disputa de protagonismo.
O que muda para você? Se vive em Portugal — ou pensa em vir —, a entrevista é um mapa do que pedir ao poder público e de como se proteger no dia a dia.
O que fazer agora? 👇
Documentos em dia: acesse o portal da AIMA para acompanhar processos; organize passaporte, NIF, NISS, contrato/recibos e comprovante de morada.
Habitação: inscreva-se em programas de renda acessível da Câmara de Lisboa e monitore editais de habitação pública; evite pagamentos sem recibo.
Trabalho: exija contrato e recibos; em caso de abuso ou trabalho não pago, denuncie à ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho).
Racismo e xenofobia: registre evidências (fotos, vídeo, datas) e faça queixa formal; busque apoio de coletivos antirracistas e de imigrantes.
Saúde e escola: registre-se no centro de saúde da área; procure cursos de português públicos/subsidiados para fortalecer a inserção.
Rede de apoio: conecte-se a movimentos como o Vida Justa, associações locais e sindicatos; participe de audiências públicas sobre habitação e migração.
Respirar, organizar e agir. Informação vira proteção — e proteção vira poder. 💪
Fonte: Entrevista com Priscila Valadão publicada na BUALA (Licença Creative Commons).